terça-feira, 12 de maio de 2009

O GUARDA-ROUPAS





TEXTO ESCRITO SEMANAS ANTES DA CIRURGIA!

Eu sempre busquei o que ser, o que fazer, ou sendo mais clara, no que me estabilizar, mas nessa minha busca desenfreada, as vezes, descobri que sabia fazer tantas coisas que a questão já não era mais sobre o que eu podia fazer, mas o que será que eu não conseguia fazer.

Quando eu era adolescente, digamos que eu não tinha o dom da beleza, então minha única forma de elogio era em cima do que eu conseguia fazer. Talvez seja uma revelação agora contar para minha irmã o quanto eu a invejava, no alto de sua beleza de olhos verdes e cabelão, sua perfeição escolar, porém eu no alto do meu peso não podia nem saber como ela se sentia. Houve uma fase da vida em que minha irmã e eu, praticamente com dois anos de diferença, éramos duas adolescentes procurando se entender. Mas ela me achava a popular, a adorada pelos primos e tios, a que cozinhava, bordava e tocava saxofone, enquanto ela não conseguiu sair das primeiras aulas, mas tinha um corpão, e o sucesso profissional, eu achava que ela tinha tudo e eu nada. Ainda me lembro de estarmos andando na rua e ela dizendo: -Eu não quero ser conhecida como sendo da família dos gordos! Eu dei risada após a sua colocação, mas acho que no fundo devo ter sentido suas mais profundas discriminações quanto ao estilo de vida que eu levava. Nessa época eu estava só um pouco preocupada com o assunto, mas como eu não conseguia emagrecer mesmo, e não tinha a menor noção do tamanho que eu era, tentava pensar em outras coisas, mas eram tantas coisas que acho que acabava não pensando em nada.

Me lembro que era uma disputa acirrada. Ela tinha os melhores trabalhos, e eu não conseguia passar de dar aulas particulares, ela era excelente aluna, e sempre se destacava. E eu, bom, eu pegava no livro e dormia, pois eu não conseguia entender matemática, e por duas vezes no ginásio, repeti em matemática, pois pra mim, não fazia o menor sentido. Eu era boa em outras coisas, teatro, fazer amigos, e de levar minhas atividades até o fim, enquanto que minha irmã tinha uma tendência a ser fogo de palha com as coisas. Mas com o passar dos anos, eu resolvi ir atrás do porque eu era gorda, e após tratamentos e muita determinação eu cumpri mais uma tarefa com sucesso, emagreci 100kgs, fiz várias cirurgias plásticas e me transformei na senhora perfeita por dentro e por fora.

Naquele momento eu percebi que minha irmã se desesperou, e simplesmente quanto mais eu emagrecia, mais ela engordava, pois não havia lugar para duas vencedoras no primeiro lugar do podium e lógico que nenhuma das duas queria ficar com o segundo lugar. Não me culpo, nem culpo a ela, pois nós duas fomos vítimas da síndrome do guarda-roupa.

Vou ainda estudar mais a fundo, mas penso que o nível da satisfação de uma pessoa é inversamente proporcional ao tamanho do seu guarda-roupa. Ta, eu explico melhor! Quando estamos vivendo plenamente, satisfeitos não sentimos necessidade de juntar qualificações, ou certificados de boa nisso ou naquilo. Resumindo, não temos necessidade de provar nada para ninguém, a não ser que esse alguém sejamos nós mesmos. E eu percebi que eu e minha irmã, passamos a vida somando, somando, somando, tantas coisas simplesmente por termos algum tempo de uma falsa satisfação, e depois abandonávamos todos os nossos dons, ou a maioria deles nas gavetas de um grande e bagunçado gurda-roupas. Percebi que eu não cozinhava porque eu gostava, mas sim porque era uma coisa que eu fazia bem, e isso me dava momentos de destaque. Estudei 5 anos de saxofone, não porque eu sonhava em ser musicista, mas porque era fácil e porque eu era boa em realizar tarefas, e com essa eu eu poderia ir até o fim. Por isso já não se tratava mais do que eu sonhava em fazer da minha vida, mas sim do que eu poderia fazer até o fim, sem ter nenhuma decepção, sem ser pior que as outras pessoas, sem ficar na desvantagem.

No final, quando caímos na realidade, e percebemos como a história começa e como ela foi ter um desenrolar tão adverso, é que nos damos conta que a sensação é a mesma de quando você compra, compra, compra, por comprar somente. Depois disso, a roupa fica lá, abandonada, já não vale mais nada, ela só foi capaz de produzir o efeito esperado por um único instante. Mas não fazemos isso porque somos maus, ou simples consumistas, e sim porque todos buscamos ser felizes, e nem sempre é da melhor forma.

Por isso é sempre bom deixarmos as portas, desse guarda-roupas, abertas, vasculharmos, tirarmos o que já não serve mais, reciclar, e garanto que haverá muitos momentos onde nos perguntaremos: “O que eu estava pensando quando eu comprei isto?” Não se culpe! Apenas sorria, porque vai soar engraçado mesmo, mas não ache muita graça, pois você pode deixar as coisas fugirem do controle.

O guarda-roupas é um bom meio de nos conhecermos. Hoje, acordei decidida a rever um lado do meu, que eu quase não abro. E aí eu mesma me perguntei o porque de quase nunca abri-lo. Pois quando eu tirei todos os cabides para fora lá estavam calças que não me serviam mais, sandálias altas demais, peças pequenas, peças grandes, muito escuras, ou que pareciam meio ultrapassadas, ou mesmo, nada a ver com o meu momento. Sim, até muitos dos quilos que eu emagreci eu coloquei de volta no meu guarda-roupas. E isso me doeu, ao me deixar obrigada a encarar o fato de que emagreci por muitos motivos, mas poucos deles estavam ligados ao que eu mesma achava sobre mim. E por isso minhas calças do tempo em que era magra estavam, umas sobre as outras penduradas num pesado cabide, simbolizando apenas um momento que eu vivi.

Estou há algumas semanas de realizar uma cirurgia bariátrica, e para que eu tenha a certeza de que eu estou fazendo isso por mim mesma, a fim de não engordar de novo, repetindo o erro da última vez, resolvi ir até as últimas conseqüências em me conhecer, saber quem eu sou, prestar atenção no que compro, no que como, nas opiniões que dou. Ta bom, eu sou doida, assumo isso, mas pelo menos estou tentando fazer alguma coisa pela minha felicidade, e me conectando a mim mesma. Procuro resgatar alguns acontecimentos, afinal de contas não tem aquele ditado, ou dizer, como queiram, que fala que pra não repetirmos os mesmos erros deveríamos estudar a nossa história. Tudo bem que foram historiadores que disseram isso, e que eu não sou nenhum país, mas vamos combinar que o interior de uma pessoa deve ser tão complexo, senão mais, do que a história de um país inteiro.

Mas hoje eu percebi um fato curioso sobre mim, eu que sempre tive o impulso de fazer altas faxinas no meu guarda-roupas e dar para doação sacolas e sacolas de roupas, pensei diferente . Simplesmente olhei para tudo com carinho, peça por peça, relembrei momentos, e decidi que não se tratava de sair esvaziando o armário. Ele é a minha história e eu não posso simplesmente sair distribuindo capítulos por aí.

Pela primeira vez, acho em anos, mas de 30 anos, eu não fui precipitada comigo. Agora não é a hora. Vai chegar o momento em que vou me sentir segura para saber o que fazer. Por enquanto, vou manter tudo organizado, arrumado com carinho e procurar visita-lo com mais frequência. Afinal de contas, como saber o que fazer se nem sabemos o que estamos sentindo?

Agora se trata do que eu gostaria muito de fazer da vida, e não de tudo que eu tenho capacidade para fazer. E quer saber, meus livros estão todos na estante. O futuro estava a portas abertas, eu é que demorei para ver.


AH! Ja faz 3 meses que operei o estômago e tenho mexido muito nomeu guarda-roupa, revisitando peças do passado e doando varias calças de numeros que nunca maisvou usar! rs tudo tem seu momento,...rs

2 comentários:

  1. Parabénss
    Vc está lindaaaaaa
    Vou fazer minha cirugia dia 29, não vejo a hora !!!
    Boa sorte nessa jornada !!
    Beijossss

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  2. Oi amiga, como esta sua dieta? Ja pode comer salada crua?So vou ao medico no dia 20, estou ansiosa p comer salada de repolho, alface...hehehehe
    Ja consigo comer pepino(sem semente), tomate, mas fico louca de vontade de experimentar saladas cruas e verduras de folha.
    Um bjo

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